segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O sonho dos meninos brasileiros

Meus afetos nem sempre foram para Ti Glorioso de Israel, nem sempre o foram, Tu o sabes. Até os quatorze meu coração somente era povoado por aquele esporte que dizem ser meu país o melhor do mundo. Sim, Bondoso, o futebol, este divertimento tão enraizado no modo de ser de meu povo, era ele que me encantava. Nos primeiros jogos, ainda infante, era tão ruim que me tornei rapidamente a culpa das derrotas de meu time. Não sabia chutar, passar a bola para os companheiros, menos ainda fazer qualquer jogada útil – corria de um lado para outro do campo como um tonto, sem propósito, sem inteligência, apenas corria, todavia em minha mente tão juvenil pensava que estava jogando o tal do futebol, e já era suficiente para me encher de alegria. A zombaria que a mim era tão farta, não me abateu, mas me ergueu. Nasceu em mim um desejo de aprender, de mostrar a todos que poderia ser melhor, de jogar, e quem sabe até jogar bem.
Foi então oh Poderoso dos povos, que me ocorreu uma idéia, a idéia de orar, e mal sabia que tal idéia já era fruto da crença, que Tu, oh Misericordioso, responde a oração, qualquer oração, mui especialmente a oração de criança, e mais ainda oh Magnífico, a oração que visa reparar alguma humilhação. Pois foi assim deste modo que passei a melhorar, despertei para os significados deste esporte, olhei para o modo com que jogavam os jogadores da televisão, e fui, pouco a pouco, tomando um extraordinário gosto, que de tanto fazer o que estava gostando, e cada vez mais, ficou-me fácil melhorar minhas atuações.
 Melhorei, oh Bondoso, melhorei, e melhorei bastante, de tal modo, que logo minha humilhação já havia mudado para respeito. Era solicitado, não ficava mais para ser o último a ser chamado, era agora quase sempre o primeiro, e tudo isto, creio, como já cria àquela época, foi uma das obras Tuas, Grandioso, sim, uma obra Tua, não por causa do esporte, pois não atentas para futilidades, mas por minha causa, para trocar a vergonha em glória, o isolamento em companheirismo, a dor em alegria, o choro em riso, o suplício calado em exaltação pública, como sempre Lhe é tão próprio, tão intimamente ligado ao Vosso amoroso caráter.
Foi desse modo, oh Maravilhoso, que meus afetos naqueles tempos, não eram Vossos, não eram por Ti, nem pelo Teu povo, menos ainda por Tua Igreja, nem pela companhia dos salvos, eram apenas para este esporte, sim, este esporte que tomava cada vez mais, muito mais, meu tempo e sonhos. Não fosse eu o que sou, e o sou, porque Sois, e muito mais porque em mim Sois, teria me inclinado a tal ponto para este divertimento que de divertimento poderia querer, como já queria, ser minha profissão. Deste-me bondade, oh Misericordioso, mas não me permitiu, e como te louvo por tal poder, fugir do chamamento, como um certo profeta que devendo ir a um lugar foi para outro imaginando que de Ti, oh Poderoso, pudesse declinar.

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