segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dona Perpétua

Era uma senhora baixinha e um pouco gorda. Cabelos grisalhos. Rosto meio arredondado. E de cor, como se falava antigamente antes de inventarem o politicamente correto; negra.  Era severa com os filhos, todos grandes, já á época, acima dos 18. Dois homens e duas mulheres. O Júnior, o mais querido.
O Dinho, terrível. A Bere, (Berenice) espeloteada, sempre se ouvia os gritos de Dona Perpetua; Bere…  A mais velha não me lembro o nome, ela trabalhava muito e quase não a víamos. Dona Perpétua era nossa vizinha e de parede. Morávamos na casa de cima, para quem subia a rua, e na debaixo para quem descia.
O esposo dela era o seu Gregório. Um senhor forte e alto, e parecia bem bravo, quase não falava com os vizinhos, só bom dia e boa tarde. Dele ela sempre comentava com minha mãe; o Gregório… Deus vai fazer a obra. Dona Perpetua era crente da Congregação Cristã do Brasil. Era crente mesmo. Não discriminava a gente porque éramos Batistas.
Com os filhos e com o seu Gregório Dona Perpetua era dura, mas conosco, muito meiga, e comigo parecia-me mais ainda. Foi dela que escutei pela primeira vez em minha vida que seria, nas palavras dela, “um grande servo de Deus”.
Ela me disse; “olha, você ainda vai ser um grande servo de Deus”. Só sei que estas palavras me fizeram um bem tão grande e que entrou no meu coração definitivamente. Ainda hoje me conforto ouvindo de novo e de novo aquelas palavras. Eu as procuro dentro de mim de vez em quando. Quero ouvi-las sempre. Senti o impacto da profecia. A partir daí passei a guardar dentro da alma algo em que esperar.
Servo eu sou, grande não me compete.
Dona Perpétua, saudades! Nunca mais a vi. Nem mesmo sei se permanece entre nós.

Tão perto e tão longe

Oh Senhor dos Exércitos, somente Vós podeis ver com toda a luz a alma humana. Tão perto estava de Tuas tão sagradas palavras, e mesmo assim, vendo não via, ouvindo não ouvia, sabendo não sabia, aceitando-as não me beneficiava delas, perto e tão longe.
Até que, Poderoso de Jacó, raiou a luz da verdade, que de tão potente como é, aniquilou o monstro da dúvida que me devorava todo dia um pouco.

O sonho dos meninos brasileiros

Meus afetos nem sempre foram para Ti Glorioso de Israel, nem sempre o foram, Tu o sabes. Até os quatorze meu coração somente era povoado por aquele esporte que dizem ser meu país o melhor do mundo. Sim, Bondoso, o futebol, este divertimento tão enraizado no modo de ser de meu povo, era ele que me encantava. Nos primeiros jogos, ainda infante, era tão ruim que me tornei rapidamente a culpa das derrotas de meu time. Não sabia chutar, passar a bola para os companheiros, menos ainda fazer qualquer jogada útil – corria de um lado para outro do campo como um tonto, sem propósito, sem inteligência, apenas corria, todavia em minha mente tão juvenil pensava que estava jogando o tal do futebol, e já era suficiente para me encher de alegria. A zombaria que a mim era tão farta, não me abateu, mas me ergueu. Nasceu em mim um desejo de aprender, de mostrar a todos que poderia ser melhor, de jogar, e quem sabe até jogar bem.
Foi então oh Poderoso dos povos, que me ocorreu uma idéia, a idéia de orar, e mal sabia que tal idéia já era fruto da crença, que Tu, oh Misericordioso, responde a oração, qualquer oração, mui especialmente a oração de criança, e mais ainda oh Magnífico, a oração que visa reparar alguma humilhação. Pois foi assim deste modo que passei a melhorar, despertei para os significados deste esporte, olhei para o modo com que jogavam os jogadores da televisão, e fui, pouco a pouco, tomando um extraordinário gosto, que de tanto fazer o que estava gostando, e cada vez mais, ficou-me fácil melhorar minhas atuações.
 Melhorei, oh Bondoso, melhorei, e melhorei bastante, de tal modo, que logo minha humilhação já havia mudado para respeito. Era solicitado, não ficava mais para ser o último a ser chamado, era agora quase sempre o primeiro, e tudo isto, creio, como já cria àquela época, foi uma das obras Tuas, Grandioso, sim, uma obra Tua, não por causa do esporte, pois não atentas para futilidades, mas por minha causa, para trocar a vergonha em glória, o isolamento em companheirismo, a dor em alegria, o choro em riso, o suplício calado em exaltação pública, como sempre Lhe é tão próprio, tão intimamente ligado ao Vosso amoroso caráter.
Foi desse modo, oh Maravilhoso, que meus afetos naqueles tempos, não eram Vossos, não eram por Ti, nem pelo Teu povo, menos ainda por Tua Igreja, nem pela companhia dos salvos, eram apenas para este esporte, sim, este esporte que tomava cada vez mais, muito mais, meu tempo e sonhos. Não fosse eu o que sou, e o sou, porque Sois, e muito mais porque em mim Sois, teria me inclinado a tal ponto para este divertimento que de divertimento poderia querer, como já queria, ser minha profissão. Deste-me bondade, oh Misericordioso, mas não me permitiu, e como te louvo por tal poder, fugir do chamamento, como um certo profeta que devendo ir a um lugar foi para outro imaginando que de Ti, oh Poderoso, pudesse declinar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Comecei

Escrever sempre me foi difícil. Um monte de gente boa pensa o mesmo de si mesmo. Tem alguns poucos neste mundo que foram agraciados com este dom de por em palavras pensamentos extraordinários.
Não sou um deles. Mas tenho alguns amigos. E amigos gostam de dar uma força pra gente. Eles me dizem que poderia escrever algo, pois, segundo eles, poderia sair alguma coisa de proveito. E sabe como nos sentimos quando gente querida nos diz coisas assim. Acreditamos. Portanto, crédulo mais neles do que em mim mesmo, comecei este espaço..
Um espaço destinado a pensar sobre o dia a dia. Um lugar para falar sobre tudo que vem a mente pela simples e leve espontaneidade de observar as coisas ao redor. Nada mais. Sem pretensão alguma. Falar por falar, mas quem sabe dizendo alguma coisa.

Era dela que tinha medo

A ausência de tua salvação é a causa do medo. Não de qualquer medo, oh Soberano, não de um medo qualquer, mas daquele que todos os homens depois de Adão tem, ainda que neguem, ainda que vaidosamente o disfarce, ainda que o repila, ainda que para ele dê o ópio dos prazeres, ainda que o enfrente como um guerreiro a seu monstro, sim, Grandioso, era dela que tinha medo, da morte.
Como sabia e tinha tal compreensão de seu efeito eterno não sei, mas sabia, e não só sabia, como temia, e como temia oh Maravilhoso, como temia! Cada dia vivia como se fosse o único, e ao deitar-me para dormir me recusava a entrar no sono do corpo temendo que outro sono me tomasse, o da morte, pois a temendo, temia o futuro incerto da minha alma.
Temia a morte porque se apresenta como o portal de entrada para a eternidade, de modo que temia uma coisa porque tinha mais medo ainda da outra.

Descontrole

Quem me livrará do corpo desta morte, miserável homem que sou, o que quero não faço, mas o que não quero isto faço! Assim disse o santo apóstolo, oh Poderoso de Israel, sim, foi isto o que ele disse.
E não tem razão Vosso santo servo? Referia-se ele ao descontrole da natureza que se herdou do primeiro Adão. E isto é tão certo com o sol que se renova a cada manhã, que quando o crente está no primeiro Adão não alcança pôr freio aos feitos desta natureza caída, ainda que queira, ainda que planeje, ainda que anele, ainda que suspire, ainda que chore, ainda que clame e reclame, não esta nele o poder de frear os feitos tão medonhos quanto execráveis do domínio do pecado sobre ele, seja meu Senhor, qual for o delito que se lhe expande por meio do corpo.
Mas louvamos-Te Bendito, louvamos-Te por Vossa providência, pois nos destes o segundo Adão, Vosso e agora nosso Cristo amado, que em nós através de Vós é a esperança da Glória.
Nele e por Ele temos a vitória do domínio do pecado, e tudo o que era impossível para a velha natureza o é agora para a nova.
De modo maravilhoso deste aos seus, que somos nós, o poder de manter sob freio toda a malignidade, que sem Vós, reina no corpo na alma e no espírito de todo homem nascido de mulher. Sendo assim Amantíssimo Rei, quem está no primeiro Adão não pode impedir a vasão de toda obra má, mas quem está no segundo Adão que Sois Vós, inesplicalvemente o verbo encarnado, não impede o fluir do mal, mas derrota-o.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A caixa de fósforos, latim e este espaço

Mencionei anteriormente o que me levou a escrever neste espaço. Depois que comecei, imaginei que seria legal ter um nome legal para este espaço legal. Legal foi o que aconteceu. Espontaneamente, como tem que ser, veio o nome.
Estava na cozinha de casa procurando café. Não sei se já informei, mas o fogão de seis bocas só funciona duas. E o  acendedor automático esta quebrado. Nada de mal. Voltamos ao velho e bom palito de fósforo. E todo dia ascendendo-os retorno a cenas da infância.
Num destes dias sem que estivesse a procura do nome para este canal, li na caixa de fósforos o nome Fiat lux. Latim. Era a marca do fósforo. Quer dizer haja luz. Fantástico, espontâneo.
É isto que eu queria. Um nome legal. Lendo o que li houve luz na minha mente. Feito. Fiat lux é o nome deste canal. Que esperança! Haja luz.